IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS - MINISTÉRIO DO BELÉM
PORTAL ESCOLA DOMINICAL
PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2017
Adultos - As obras da carne e o fruto do Espírito
ESBOÇO Nº 10
LIÇÃO Nº 10 - MANSIDÃO TORNA O CRENTE APTO PARA EVITAR PELEJAS
A mansidão reflete toda a nossa submissão a Deus e só os que se submetem ao senhorio de Cristo viverão com Ele eternamente.
INTRODUÇÃO
Seguindo a sequência de Gl.5:22, estudaremos a oitava qualidade do fruto do Espírito, a saber, a mansidão, uma das qualidades que está vinculada ao relacionamento da pessoa consigo mesma. Quando somos submissos a Deus, bem sabemos qual é o nosso lugar na ordem universal, reconhecendo que, assim como elas, somos apenas mordomos de Deus.
A mansidão é o resultado da submissão do homem a Deus. Quando falamos em mansidão, observamos, claramente, que quem desobedece a Deus é arrogante, é soberbo por natureza. Cristo é o nosso modelo de mansidão. Ele mesmo disse que era manso e humilde de coração (Mt.11:29).
I – O QUE É MANSIDÃO
Diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa que mansidão é “qualidade ou condição do que é manso; brandura de gênio ou de índole; brandura na maneira de expressar-se; doçura, meiguice, suavidade.” Segundo os lexicógrafos, a palavra “mansidão” vem da raiz “mans” que, “…segundo Corominas, "está documentado en el Liber Glossarum compuesto en España h. el a. 700 (CGL V, 220.40)"; observe-se que mansuétus é o part.pas. do v. mansuesco,is,évi,étum,ère 'acostumar-se à mão (ou ao poder) do dono; amansar-se, domesticar-se' (de manus 'mão' + suescère 'ter costume')…”.
Pelo que se vê da raiz da palavra “mansidão”, portanto, temos que “manso” é aquele que se acostuma ao poder de um dono, aquele que se domestica, ou seja, aquele que passa a seguir as regras da casa de alguém, aquele que se submete ao poder de alguém. Neste sentido, aliás, é que falamos em animais amansados ou mansos, isto é, animais que aprenderam a obedecer ao homem, ao contrário dos animais selvagens, que são animais que não se submetem a ordens nem a vontades dos homens.
A mansidão é o resultado da aceitação do senhorio de alguém, é a submissão à autoridade de alguém. O homem, ao contrário dos animais domesticados, amansados, é portador de liberdade, de livre-arbítrio, ou seja, tem a capacidade de escolher entre o bem e o mal. Por isso, o Senhor, ao criar o homem, disse que ele poderia comer “livremente” de todas as árvores do jardim, mas não da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn.2:16,17), mostrando, assim, que havia um senhorio de Deus a ser observado pelo ser humano, mas que este mesmo ser humano era livre, ou seja, poderia, ou não, se submeter a este senhorio.
Ora, como bem sabemos, o homem não obedeceu a Deus, tendo comido do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, desobediência esta que importou na morte espiritual, ou seja, na separação entre Deus e o homem. A partir deste momento, o homem passou a ser sujeito ao pecado, porquanto, ao invés de ser como Deus, como mentira o adversário (Gn.3:5), o homem, apesar de saber o bem e o mal (Gn.3:22), não se tornou senhor como é Deus, mas, bem ao contrário, passou a ser escravo do pecado, circunstância que foi demonstrada por Deus a Caim (Gn.4:7) e por Jesus aos judeus (Jo.8:34) como sendo a triste realidade do pecador, que, assim, como bem descreveu Paulo, faz aquilo que não quer (Rm.7:17-24).
O pecador, portanto, tornou-se servo do pecado, filho da desobediência (Ef.2:2) e, por natureza, passou a ser filho da ira, pois faz a vontade da natureza pecaminosa que habita nele (Ef.2:3). Deste modo, não há como o pecador ser manso, mas, bem ao contrário, é alguém que trata duramente o semelhante, que, inclusive, quer a sua própria eliminação, como vemos no próprio caso de Caim, que a Bíblia diz que matou seu irmão porque era do maligno, ou seja, porque estava, como Deus já lhe alertara antes, sob o domínio do pecado (I Jo.3:12a).
Quando retorna à comunhão com o Senhor, passando a ser “filho de Deus” (Jo.1:12), voltamos a ser “filhos da obediência” e, por sermos obedientes a Deus, não entramos em conflito mais com os outros a partir de nosso “eu”, daí porque nos tornarmos aptos para evitar pelejas. Como afirma Tomás de Aquino: “…Por isso, às iras não se assinala mais que uma virtude, a mansidão…” (Suma Teológica. Trad. de Armando Bandera González et alii. I-II, q. 60, a.5, r.4, p.462) (tradução nossa de texto em espanhol) e, também, ao salientar que a contraposição da mansidão é a inveja (op.cit., I-II, q. 70, a.4, p.536). O Aquinate ainda diz: “…a mansidão é a que modera a ira, como diz o Filósofo.…” (op.cit., II-II, q. 157, a.1. Disponível em: http://permanencia.org.br/drupal/node/4317 Acesso em 19 nov. 2016).
Neste sentido, é importante vermos que a mansidão tem um efeito importantíssimo, que é o de nos fazer observar a Palavra de Deus. Assim ensina Tomás de Aquino, citando Agostinho: “…Assim, a ira, que a mansidão abranda, impede soberanamente, pelo seu ímpeto, a alma do homem de julgar livremente da verdade. E por isso, a mansidão é a que sobretudo o torna senhor de si. Donde o dizer a Escritura: Filho, conserva a tua alma na mansidão [citação do livro apócrifo de Eclesiástico 11:31, observação nossa] (…) A mansidão nos prepara ao conhecimento de Deus, removendo–nos os impedimentos. E isto de dois modos. Primeiro, tomando–nos, pela diminuição da ira, senhores de nós mesmos, como dissemos. E depois porque é próprio da mansidão não contradizer as palavras da verdade, o que às vezes muitos fazem levados pela comoção da ira. Por isso, diz Agostinho: Ser humilde é não contradizer à divina Escritura, quer quando, entendendo–a, vemos que coluna certos vícios nossos; quer quando não a entendemos como se pudéssemos saber e mandar melhor que ela.…” (op.cit., II-II, q. 157, a.3. Disponível em: http://permanencia.org.br/drupal/node/4320 Acesso em 19 nov. 2016). Charles Spurgeon, seguindo este mesmo pensamento, afirma: “…A grande lição do Evangelho é nos ensinar a ser mansos — a nos despojar de nossos espíritos altivos e raivosos e nos fazer humildes de coração…” (O manso e humilde. Sermão pregado na manhã de domingo do dia 31 de julho de 1859 em Music Hall, Royal Surrey Gardens. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols4-6/chs265.pdf Acesso em 19 nov. 2016).
A mansidão, por promover esta mudança de conduta com relação ao próximo, embora seja uma qualidade voltada para si mesma, mostra ser uma qualidade fronteiriça entre o amor a si mesmo e o amor ao próximo, pois.
No Antigo Testamento, a primeira palavra usada para “manso” é “anav”(ענן), que significa “estar inclinado” e que aparece por cerca de vinte vezes no texto sagrado (v.g., Nm.12:3; Sl.22:26; 25:9; 37:11; 76:9; 147:6-“humildes” na ARC; Is.11:4-“pobres” na ARC; 29:19; 61:1; Am.2:7-“pobres” na ARC; Sf.2:3a). Segundo J.C. Connell, “…o adjetivo (…) significa basicamente pobre e aflito, de onde se deriva a qualidade espiritual de submissão paciente e de humildade…”(Mansidão. In: O Novo Dicionário da Bíblia, v.2, p.993). Esta palavra designa alguém que está sob autoridade, que admitiu a supremacia de alguém sobre si. Neste sentido, aliás, surgiu o costume ainda hoje observado em alguns países de se inclinar perante uma autoridade, em sinal de respeito e de submissão (como se vê em II Rs.5:18,19). Além desta palavra, há, ainda, a palavra hebraica “anavah” (ענןי), derivada de “anaw”, que tem o significado de “gentileza”, “humildade”, que ocorre por quatro vezes no Antigo Testamento, três das quais no livro de Provérbios, que é um manual moral por excelência (Sf.2:3b; Pv.15:33; 18:12 e 22:4 – “humildade” na ARC), bem como sua variação, “anvah”(ענןיח), cujo significado parece ser mais o de “suavidade”, “brandura”, que ocorre por duas vezes, em Sl.45:4 e 18:35, em textos em verso, o que poderia explicar a variação do termo.
Em o Novo Testamento, a palavra grega é “praus” ou “praos” (πραυς) e seus derivados (como o substantivo “praútes” ou “praotes”), que “…se refere a uma atitude interior, enquanto que a gentileza se expressa antes por meio de ações externas(…). Os mansos não se ressentem com a adversidade porque aceitam tudo como efeito do sábio e amoroso propósito de Deus para com eles…”(CONNELL, J.C. op.cit., p.992-3).
II – O QUE É SER MANSO
Pelo que podemos verificar, portanto, a mansidão é mais uma daquelas qualidades do fruto do Espírito que são adquiridas com o tempo, com o desenvolvimento da vida espiritual. Não ficamos mansos de imediato, mas através de um aprendizado. Por isso, o próprio Jesus nos aconselhou a aprender d’Ele que é manso e humilde de coração (Mt.11:29) e, na vida de Moisés, “… mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra…”(Nm.12:3), vemos que esta mansidão excelente foi trabalhada num período de pouco mais de oitenta anos de vida.
A mansidão é adquirida pois se trata de um costume de estar sob o poder de alguém. O manso se acostuma a estar sob o senhorio de alguém e, quando dizemos que há costume, dizemos que há um hábito, pois costume é “…o uso geral, constante e notório, observado sob a convicção de corresponder a uma necessidade…” (GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil, 2.ed., p.43). O costume é o resultado de uma prática continuada de ações e de atitudes por causa de uma convicção de que é necessário realizar estas ações e estas atitudes daquela maneira, daquele modo. A mansidão, portanto, é o efeito de uma prática constante de ações sob a autoridade divina, sob a direção de Deus, é o resultado de uma convicção, de uma certeza de que é necessário seguir a orientação de Deus no dia-a-dia, no cotidiano.
OBS: No Amazonas e no Pará, é chamado de “manso” o indivíduo, especialmente o seringueiro, adaptado à vida do seringal e aos hábitos regionais. Esta expressão é muito elucidativa, porque nos mostra que a mansidão é fruto da adaptação. Um homem manso é aquele que se adapta à natureza divina, que ganha a natureza da videira verdadeira.
Moisés, no início da sua vida, criado como príncipe egípcio, formado em toda a ciência egípcia, embora tenha compreendido que tinha de se posicionar ao lado de seu povo, embora tivesse guardado os ensinamentos de sua mãe Joquebede e crido no Deus de Abraão, Isaque e Jacó, não tinha este costume ainda. Ao matar o egípcio que feria um hebreu (Ex.2:11,12), logo tomou a decisão de matar o egípcio e achava ter feito aquilo de forma encoberta. Entretanto, tudo foi descoberto e Moisés acabou de ter de fugir do Egito, porque tinha de adquirir o hábito de seguir a direção de Deus, de estar sob o comando de Deus e não de tomar as rédeas do que achava certo e correto, de se pôr acima de tudo e de todos. Só quando aprendeu esta lição, de ter uma prática de submissão a Deus, é que pôde alcançar a condição de homem mais manso da terra.
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