A morte de Bento de XVI

Imprimir

CARAMURU AFONSO FRANCISCO*

A MORTE DE BENTO XVI

Ao término do ano de 2022, precisamente no último dia do ano, o Papa Emérito Bento XVI faleceu, quase dez anos depois de sua renúncia como chefe da Igreja Católica Apostólica Romana, ele que é, sem dúvida, um dos grandes teólogos católicos do século XX.

Por ocasião daquele episódio, tivemos a ocasião de escrever um artigo, em que, com base, inclusive, em afirmações feitas por um cardeal, mostrávamos que a renúncia fora uma tentativa de evitar que os “ventos liberalizantes indevidos” do Concílio Vaticano II tomassem conta da Igreja Romana, fazendo-a tomar os rumos do “espírito do Anticristo” (I Jo.4:3), do “mistério da injustiça” (II Ts.2:7), conformando-se à chamada “nova ordem mundial”, aos valores contrários à doutrina cristã e que estão a dominar crescentemente os governos e as instituições em todo o mundo.

A renúncia, entretanto, antes de impedir a tomada do poder por estes “ventos de doutrina”, que o Papa Emérito Bento XVI já denunciara quando da homilia que, na qualidade de Decano do Colégio dos Cardeais, proferiu na missa que antecedeu à sua própria escolha como Pontífice Romano, o que se viu foi exatamente o contrário, ou seja, a eleição de Jorge Mário Bergoglio, cardeal-arcebispo de Buenos Aires, que passou a ser o Papa Francisco e que, desde então, vem seguidamente implementando a “agenda anticristã” no Vaticano.

Assim é que, durante seu pontificado, que irá completar brevemente uma década, o atual Papa começou a proferir dúbias declarações a respeito do homossexualismo e das uniões de pessoas do mesmo sexo, aborto, divórcio e novo casamento, sacerdócio feminino, dentre outros assuntos, tendo, de forma clara, adotado o discurso ambientalista, inclusive de admissão de uma certa adoração à “mãe-Terra”, como ficou claro quando do “Sínodo da Amazônia”, realizado em 2019, como também da sua própria encíclica “Laudato Si”, de 2015.

Além deste discurso ambientalista, Francisco adotou uma linha de evidente favorecimento da “unidade de todas as religiões”, como se verifica da chamada Declaração da Fraternidade Humana, também conhecida como Declaração de Abu Dhabi, assinada por Francisco e o líder muçulmano Ahmed Al-Tayed, Grande Imam de Al-Azhar, em 2019, bem como da Declaração Final do IV Congresso dos Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais em Nur-Sultan no Cazaquistão neste ano de 2022.

O próprio Bento XVI, que se manteve quieto e recluso durante todos estes anos, teve uma atitude inusitada, em 2017, ao escrever um prefácio para a edição alemão do livro do cardeal Robert Sarah (1945- ), então prefeito da Congregação para o Culto Divino e Sacramentos, “persona non grata” ao Papa Francisco, livro denominado “A força do silêncio, contra a ditadura do rumor”, em que o cardeal defendia, inclusive, o documento do Papa Bento XVI que havia permitido a “missa tridentina”, a chamada “missa em latim”, que havia sido substituída pela “missa nova” depois do Concílio Vaticano II.

Este prefácio de Bento XVI, em que há nítido ataque aos “ventos liberalizantes”, serviu como um freio para as alterações que Francisco tencionava fazer a respeito, e que somente se materializaram em 2021.

Tem-se, portanto, que, dentro de suas limitações, Bento XVI ainda demonstrou sua oposição a esta tendência que havia tomado conta do Vaticano. Sua morte, portanto, representa, de modo emblemático, o término da ainda tênue e débil influência que esta corrente ainda tinha na Igreja Romana.

Agora, temos a convicção de que nada mais freará o encaminhamento da Igreja Romana na cristalização da agenda anticristã, da qual, ela própria, será, e já tem sido, a vítima preferencial, porquanto, como vemos em Apocalipse 17, o Anticristo e seu sistema aborrecerão a Igreja Romana (que é a mulher retratada naquele capítulo), pô-la-ão desolada e nua, comerão a sua carne e a queimarão no fogo (Ap.17:16).

Alguns católicos, denominados de “sedevacantistas”, que entendem que, desde João XXIII, que assumiu o pontificado em 1958 e que convocou o Concílio Vaticano II, já não há mais um Papa legítimo no Vaticano, precisamente porque o Concílio teria tido por objetivo a introdução de uma falsa doutrina na Igreja Romana, para seu completo desvirtuamento, Bento XVI seria “mais do mesmo”, ainda que tivesse, ainda, um certo prurido, uma certa aparência de catolicismo. Até para estes, a morte do Papa Emérito é o final desta “aparência”, é a deslavada assunção da falsidade doutrinária como norte, é a cristalização do domínio anticristão sobre a “sé de Roma” (1).

Outros católicos, por sua vez, reconheciam a Bento XVI como Papa mas não a Francisco e, para estes, a morte de Bento XVI representa o término do Papado e, por conseguinte, as portas abertas para que o Anticristo venha a dominar a sé romana (2).

Outros, por fim, embora admitam que Francisco seja Papa legítimo, tinham em Bento XVI uma fonte de inspiração e prosseguem tentando, por meio de movimentos internos, manter viva esta chama do "verdadeiro e genuíno catolicismo", sabendo que estão a lutar contra o Anticristo, que quer dominar a Igreja Romana e já teria dominado parcela da estrutura eclesiástica (3).

Bem se vê, portanto, que tudo nos mostra, inclusive entre os próprios romanistas, que estamos às vésperas do domínio do Anticristo e isto significa que Jesus não tarda vir arrebatar a Igreja.

Preparemo-nos, pois, porquanto os sinais são cada vez mais clarividentes no sentido de nos mostrar que, mui brevemente, encontraremos com o Senhor nos ares. Maranata!

+++

[1] É a posição, dentre outros, de Frei Tiago de São José, como se pode verificar de seus vídeos no seu canal Monte Carmelo no YouTube.

[2] É a posição do professor Emílio Carlos, pároco leigo da Paróquia da Sagrada Face de Tours, como se pode ver de seus vídeos nos canais TV Nossa Senhora de Fátima e Capela da Sagrada Face no YouTube.

[3] É a posição de movimentos como setores da Renovação Carismática Católica, o Centro Dom Bosco, o Instituto Plínio Corrêa de Oliveira entre outros.

 

* Pastor auxiliar da Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede – São Paulo/SP e colaborador do Portal Escola Dominical (www.portalebd.org.br).